sábado, 21 de novembro de 2009

DEPOIMENTO de uma DISLÉXICA

DEPOIMENTO DE UMA DISLÉXICA

Meu nome é Flavia tenho 18 anos moro com meus pais e irmãos, sou disléxica e toda minha família é também, imaginem: Meu pai é disléxico se juntou com minha mãe que também é disléxica e deu quatro filhos disléxicos e eu sou a caçula, carregando histórico nas costas, e vocês devem saber muito bem como é complicado ser disléxico numa sociedade em que vivemos, sofri muito tive várias crises comigo mesma principalmente na pré-adolescência em que começou a me machucar e incomodar os meus erros ortográficos, aí então começou o meu dilema de não saber escrever.
Foi o período que minha ficha meio que caiu, pois quando somos crianças não ligamos muito, pelo menos que eu me lembre não tenho trauma de criança não. Mas quando comecei a ficar mocinha, e escrever errado as pessoas me corrigir aquilo me machucava muito e passei a ter uma fase de melancolia ou até mesmo depressiva. Na verdade vivo esse dilema até hoje, pois tenho pavor de escrever em público ou qualquer forma de escrever para terceiros, é apavorante é como um bicho-de-sete-cabeças.
Mas eu digo que minha vida mudou da água para o vinho quando eu descobri a dislexia, me veio uma mistura de sentimentos tais como alegria, emoção, curiosidade, solução de tantas coisas, o meu coração disparava eu não piscava os olhos eu refletia bastante tudo era muito novo para mim um mundo que até então eu não conhecia, eu lamentavelmente descobri através de um a programa de TV coisa que poderia saber desde pequena, mas não culpo meus pais não, pois foram vitimas assim como eu, e os pais deles também não sabiam que eles eram disléxicos.
Foram tratados apenas como pessoas que infelizmente não nasceram para estudar assim como acontece com todos os disléxicos, e então de quem é a culpa? Das escolas? Dos professores? Do ministério da educação? Quem poderá pagar por isso? Mas a verdade é que cresceram achando que era burro, fora o preconceito dos professores que imagino que teve de agüentar.
E assim nesse sistema criaram seus quatros filhos também nesse mesmo ritmo nessa total ignorância e desconhecimento eu mesma nem sabia por que escrevia tanto errado, se eu não descobrisse através de um programa de TV esse distúrbio com certeza estaria muito mais depressiva do que já estou, pois meus professores nunca chegou para minha mãe para falar da minha dificuldade em sala de aula, digo isso, pois nesses meus anos letivos olhe que já estou no terceiro ano não veio se quer uma professora para conversar com minha mãe ou comigo que não era normal a minha dificuldade em sala de aula, sempre falava que eu era muito desatenta e tudo que passava eu olhava, enfim muitas reclamações e nenhuma compreensão e assim foi todos esses anos que estudei aposto que tenho vários professores que vão me apontar como a pior aluna, e eles assim me acusando e eu assim me sentido.
Chega a ser engraçado e até irônico, pois filho de rico logo que apresenta quaisquer sintomas logo acha estranho vão se informar, a mãe toma a frente e logo tem uma boa assistência com psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogo enfim tem uma base ao seu redor e nós aqui de família humilde somos simplesmente tachados de burro, preguiçoso e ponto, pois não tem nada de errado não é tudo muito natural ninguém sabe de nada taí a gravidade disso tudo esse desconhecimento total esse conformismo de nascer intelectualmente inferior essa é a situação do Brasil quando se fala de distúrbio de aprendizagem.
Para a pessoa que não tem uma boa condição financeira e é disléxica o caminho obvio é o emprego informal ou a marginalidade se fosse fazer uma pesquisa nesse Brasil quantas pessoas que são ambulantes ou marginais não só por oportunidade de emprego, mas também de um estudo digno sem que se desestimule principalmente da parte dos professores ta cheio. Eu me encaixo nos dois quesitos sou disléxica e sou pobre e aí o que será de mim do meu futuro será que terei de ir para a marginalidade pra ver se ganho mais dinheiro e mais rápido ou me conformo com o mercado informal mesmo, sinto-me assim com um futuro traçado de uma pessoa alfabetizada analfabeta que conclui o ensino médio e vai fazer um bico, que vai receber não mais que um salário mínimo ou quem sabe até torcer para ter uma sorte no meio do caminho.
Dificilmente uma pessoa que tem distúrbio de aprendizagem vai querer seguir em frente nos estudos e ter um diploma universitário, eles não vêem motivo pra isso não tiveram incentivo, por que não é normal, é muito mais natural seguir pelo caminho mais “fácil” da vida eu tenho consciência que carrego nas costas todo o histórico da minha família ou até generalizando toda classe disléxica, que simplesmente não tem uma profissão universitária, quantos tiveram oportunidade ou sorte de se formar, (fora é claro os que têm condições e principalmente conhecimento) me diga aí qual a pessoa pobre disléxica nesse Brasil que teve ao menos uma oportunidadezinha ou até mesmo uma atenção especial, se eles muitas vezes nem sabe por que são assim essa é uma questão complicada e gravíssima eu lamento muito por fazer parte dela.
Esse é meu futuro essa é a situação que vivo esse é meu mundo obscuro e de milhares de disléxicos.

Flavia Santos Lima - Disléxica - 19

ORAÇÃO do ALUNO ESPECIAL

ORAÇÃO DO ALUNO ESPECIAL


Senhor!
Tua criação é perfeita.
Todos os dias, podemos contemplar o milagre da vida se renovando. Tudo acontece de novo e tudo é absolutamente novo. Cada ser que habita o universo surge com suas características próprias. Não há, no mundo, duas criaturas idênticas. Nem os gêmeos são idênticos. E, quanto mais se desenvolvem e convivem com outras pessoas, mais vão ganhando um jeito próprio de ser e de existir.
Tua criação é perfeita.
E, nessa perfeição, convivemos com aqueles que têm diferenças. São pessoas que ouvem menos ou nada ouvem, que enxergam pouco ou nem enxergam, que não falam. Falam de tantas outras maneiras. Que nascem ou desenvolvem algum tipo de limitação que atinge alguns de seus órgãos. Isso não os faz menores nem menos belos. São diferentes. Diferentes são todos aqueles que se aventuram nessa jornada da existência humana.
Alguns escolheram chamá-los pessoas com necessidades especiais. E eles têm, sim, necessidades especiais. Temos, todos, necessidades especiais que precisam ser supridas de alguma maneira. Somos carentes, todos nós. Carecemos de atenção, de ternura, de afeto. Carecemos de outros seres humanos que enxerguem em nós possibilidades. Pessoas que, nos vendo confundidos com patinhos feios, convidem-nos a mirar nossa imagem no lago e perceber que somos cisnes. Não somos feios. Nem esquisitos. Somos diferentes do grupo que não soube perceber nossa beleza. Somos belos todos. Cada um a seu modo. Porém, belos.
Não carecem de pena aqueles que são limitados por algum motivo. Não carecem de sentimentos mesquinhos. Carecem de dignidade. De aceitação. De respeito. De espaço para que se sintam úteis. De espaço para que possam estudar, e trabalhar, e viver a intensidade da vida. Crianças com Síndrome de Down. Como são carinhosas. Autênticas. Quem as conhece e as ama sabe o quanto povoam as famílias com belíssimas lições de amor. E abraçam tanto. E cantam. E dançam. E riem. Parecem não se deixar contaminar com disputas mesquinhas, que separam as pessoas e ferem os sentimentos. Quantas dessas crianças, entretanto, são rejeitadas. Não quiseram os pais entender que também eram especiais por poder conviver com essas jóias. E o triste abandono.
Os alunos que frequentam as escolas. As crianças que se alvoroçam diante de cada novo aprendizado não são preconceituosas. Com certeza, saberão conviver com o diferente, e isso fará com que se desenvolvam de forma solidária. Como é bonito perceber o intuito de presença e solidariedade dos colegas que se dispõem a empurrar a cadeira de rodas. A ajudar e a ser a luz daqueles que, cheios de luz, não conseguem enxergar o material. Como amadurecem ao conviver com limitações que vão diminuindo à medida que o tempo se torna um grande aliado do aprendizado para todos. Para todos, porque todos são capazes de aprender.
Tua criação é perfeita.
E, nessa perfeição, percebemos as diferenças, convivendo sem barreiras. As que existem são simples de serem transpostas. As mais difíceis são aquelas que teimam em habitar as almas dos que se sentem superiores. Triste sentimento que não é sentimento, mas ausência dele. Triste discurso o dos pais ou das mães que, ignorantes de amor, ensinam os filhos a tomarem cuidado com tudo o que for diferente. Diferente por ter outra cor ou cabelo, por nascer em outro Estado ou País, por comungar de outra religião, ou por ter menos dinheiro no banco. Esses pais e mães são os verdadeiros cegos e surdos de espírito. Têm todos os sentidos e, por sua vez, o que sentem não faz o menor sentido.
Tua criação é perfeita.
E é nessa harmonia que faço esta oração. Que ninguém se sinta diminuído, ou excluído, ou marginalizado. Que ninguém se sinta sozinho por falta de amor. Que ninguém se dê o direito de magoar. E que ninguém seja magoado.
Tua criação é perfeita.
E é nessa perfeição que agradeço, Senhor, o dom da sensibilidade de perceber que é muito bom viver no mundo dos diferentes. Isso nos faz mais humanos, e sensíveis, e felizes. E isso nos faz sentir ainda mais Tua única e diferente presença, a cada instante de nossas vidas.
Amém!